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Um breve compilado sobre homossexualidade masculina e ausência paterna

  • Foto do escritor: Saulo Ricardo
    Saulo Ricardo
  • 24 de abr.
  • 2 min de leitura

Por Saulo Borges




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Entre tantos silêncios que atravessam o universo masculino, poucos são tão carregados de tabus quanto a homossexualidade. Muitos homens que se descobrem homossexuais vivem essa experiência com uma dor secreta: a ausência de um pai que os tenha reconhecido, acolhido ou mesmo orientado na travessia entre o menino e o homem. O corpo, o desejo e a identidade ficam então marcados por um vazio que se preenche com busca — de si mesmo, de um espelho masculino, de um pertencimento.


Segundo Guy Corneau, embora acreditar em indícios genéticos na homossexualidade, é inegável o impacto psíquico da ausência paterna e da presença dominante da mãe na formação da identidade sexual de muitos homens. Corneau aponta que a homossexualidade, em alguns casos, pode surgir como uma tentativa simbólica de aproximação com o pai ausente — seja na busca pelo corpo masculino, seja no desejo de reconhecimento masculino. Nessa ausência, o corpo do outro se torna um espelho do próprio corpo que não foi validado, desejado ou admirado na infância.


Na perspectiva junguiana, Jung interpreta algumas manifestações da homossexualidade como uma identificação com a anima — o princípio feminino presente na psique de todos os homens. James Hollis, por sua vez, observa que, na ausência de ritos de passagem conduzidos por figuras masculinas maduras, os homens permanecem presos ao complexo materno, buscando no amor — por vezes homoerótico — a confirmação de seu valor.


Sanford aprofunda essa discussão ao sugerir que o desejo homossexual, em certos casos, não está diretamente ligado ao outro homem, mas ao que ele simboliza: o próprio si-mesmo, que é a totalidade. Isso explica o surgimento de laços afetivos profundos entre homens de idades diferentes — relações nas quais se projetam aspectos do pai, do filho, da juventude e da sabedoria.


O drama desses homens não é a homossexualidade em si, mas o quanto ela pode estar carregada de ausências, de feridas, de tentativas de reparar o que ficou pendente com o pai. O ato sexual torna-se o único canal conhecido para acessar o afeto, e a alma busca no outro a imagem de sua própria inteireza. Mas a pergunta que fica para cada homem é: como posso me encontrar como homem sem ter tido um pai que me dissesse quem eu era?


Talvez o caminho seja esse que nos propõe Corneau: criar um mundo com mais ternura entre os homens, onde o afeto possa existir desvinculado do desejo sexual, onde possamos olhar uns para os outros com menos medo, menos julgamento, e mais desejo de reconhecimento. Porque, no fundo, não buscamos apenas um corpo — buscamos o direito de sermos quem somos, com orgulho.


Referências:

  • CORNEAU, Guy. Pai ausente, filho carente. 1.ed. Barueri: Manole, 2015.

  • HOLLIS, James. Sob a sombra de Saturno: a ferida e a cura dos homens. 1.ed. São Paulo: Paulus, 1997.

  • SANFORD, John A. Os parceiros invisíveis. 1.ed. São Paulo: Paulus, 1987.

 
 
 

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